Diversificando a matriz energética

As energias renováveis alternativas à geração hidrelétrica, como a eólica, a solar e a biomassa, foram as protagonistas em 2015 e contribuíram para que mais de 40% de toda a matriz energética brasileira tivesse um perfil mais verde. Apesar do petróleo e de seus derivados, como a gasolina, e o gás de cozinha, fazerem parte da matriz brasileira, que é bem diversificada, em dez anos, esse tipo de energia renovável cresceu 30%, passando de 2,8% de toda a oferta de energia interna, em 2004, para 4,1%, em 2014.

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A importância do desenvolvimento desse tipo de energia é fundamental, pois, como temos visto, o regime hídrico vem se reduzindo sensivelmente e, dessa forma, causando uma grande apreensão com relação à sustentabilidade do fornecimento de energia, via hidrelétricas, às empresas e às comunidades e que hoje representa 70% da matriz energética brasileira.

Interessante é observar que o uso do combustível mais antigo usado pelo homem, a madeira, ainda é atual e condizente com o momento em que o mundo vive hoje. Cada vez mais precisaremos ser eficientes no uso dos recursos naturais do planeta; é um desafio e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade para com as futuras gerações.

A formação da biomassa florestal é uma fonte de energia primária e renovável, que, além de poder gerar energia, traz consigo a possibilidade de transformar energia solar, gratuita, em energia química, através desse maravilhoso processo conhecido como fotossíntese, retendo o carbono presente na atmosfera e, assim, contribuindo diretamente para a redução dos gases de efeito estufa.

Independente do processo de utilização da madeira, que pode ser por combustão direta, carbonização ou pirólise, gaseificação e hidrólise por via ácida ou enzimática, existe, hoje, uma grande variabilidade de espécies florestais capazes de atender às necessidades específicas de diversos setores produtivos do nosso país, com custos reduzidos e trazendo, simultaneamente, desenvolvimento econômico, social e ambiental.

No caso específico da produção de energia através do carvão vegetal, as características das plantas e de sua madeira são fundamentais: a produtividade (massa seca), a densidade da madeira, o teor de lignina o qual está diretamente relacionado com a estabilidade térmica, além de ser composto por carbono, seus teores de carboidratos (holoceluloses), minerais, seu poder calorífico e teores de umidade vão determinar diretamente o quão apropriada a madeira é para a produção dessa commodity.

Devido a esses fatores, principalmente os químicos, a madeira possui poder calorífico variável, dependendo da espécie. Madeiras de coníferas, como o Pinus, possuem poder calorífico superior médio de 5.200 cal/g, enquanto as madeiras de folhosas, como o Eucalyptus, possuem poder calorífico superior médio de 4.500 cal/g.

O setor florestal brasileiro é bem desenvolvido, inclusive é o maior produtor de carvão vegetal do mundo, mas o uso da lenha de plantios florestais para geração elétrica ainda tem participação irrisória na atividade florestal brasileira. A tendência, contudo, é de crescimento nos próximos anos.

Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética – EPE, até 2020, a produção de energia a partir de biomassa florestal deve chegar a 22 terawatts-hora (TWh), o equivalente a quase 25% de toda a produção de Itaipu em 2015, a projeção para o uso energético da madeira é ainda mais promissora nas próximas décadas, até 2050, atingindo 70 TWh; da mesma forma, pela projeção da EPE, o Brasil tem potencial para dobrar seus plantios florestais nas próximas décadas, alcançando 15 milhões de hectares, dos quais 3,8 milhões seriam destinados à produção de energia.

No campo prático do assunto relacionado ao uso da madeira como energia, há uma forte e animadora tendência mostrando que o agronegócio, com uma safra acima de 200 milhões de toneladas de grãos em 2016, necessitará de mais de 30 milhões m3 de madeira para sua secagem e processamento, alavancando, dessa forma, a área de energia, área que, aliás, mostra uma forte elevação na produção mundial através da produção de pellets, que passou de 2 milhões de toneladas, em 2001, para 24 milhões de toneladas, em 2014. Aumento superior de 20% ao ano.

O Brasil ocupa a terceira posição na lista dos maiores consumidores de biomassa para a produção de energia, depois da China e da Índia, mas o carro-chefe ainda é o bagaço de cana-de-açúcar. Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, são gerados cerca de 139 milhões de KW, sendo que 27% de toda energia é proveniente de biomassa. No entanto apenas 11,9% desse total provêm da madeira e dos resíduos florestais.

Por isso precisamos fortalecer as plantações florestais, ampliando e melhorando as condições de linhas de financiamento dos bancos nacionais de fomento com espécies arbóreas exóticas, determinando que a madeira de florestas plantadas possa ser colhida e comercializada pelo proprietário, sem prévia autorização de órgãos estaduais e federais, e o principal: inserir a floresta plantada e a biomassa para energia renovável nos esforços de promoção institucional dos biocombustíveis brasileiros, no âmbito da diplomacia internacional e das ações coordenadas pelo Itamaraty, em diversos fóruns internacionais.

A perspectiva para o futuro “planejado” do setor de biomassa renovável é promissora e se baseia em gerar riquezas, educar o homem e conservar os recursos naturais, em especial, a energia.

Roosevelt de Paula Almado

Gerente de Pesquisa Florestal e MA da ArcelorMittal BioFlorestas

 

Revista Opiniões
Parceira PECCA

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