Agrônomo ‘fabrica’ água em MG ao controlar voçoroca e cuidar do solo
Com combate a erosão e adoção de curvas de nível e bolsões, ele conseguiu aumentar o volume de água em sua fazenda, em Uberaba.
Assim que pôde, o engenheiro agrônomo Marco Túlio Paolinelli comprou uma fazenda com voçoroca, uma cratera que se abre no solo e pode engolir propriedades inteiras. O pai dele disse: “Não compre, você vai quebrar”. Por enquanto, não quebrou, pelo contrário. E mais: foi a partir daí que ele começou um trabalho de preservação que hoje chama de “fábrica de água”.
A formação do solo da fazenda em Uberaba (MG), com rochas de 72 e 65 milhões de anos, compõe “o lugar ideal para se achar dinossauro”, segundo o geólogo Luiz Carlos Ribeiro. Mas é terra propícia também a erosões.
As rochas são formadas por grãos de areia e quartzo, que são soltos, basicamente. “Qualquer fluxo aquoso descola grão a grão, e vai havendo uma infiltração, que vai se aprofundando, até formar um sulco primário. A partir daí, com o movimento da água superficial, esse sulco vai se aprofundando até formar uma cratera que a gente chama de voçoroca”, explica o geólogo.
O fazendeiro diz que voçoroca não se ataca, se defende. “Faz uma proteção para a natureza fazer a parte dela”. Hoje, já tem uma bem dominada em sua propriedade.
O começo de tudo
Para conseguir cursar agronomia, Paolinelli já foi garçom, mascate, barbeiro, palhaço e até mágico. E mágica ele fez mesmo depois de formado.
Como engenheiro agrônomo, trabalhou numa empresa de fertilizantes cujo subproduto era o gesso. Era um estorvo. O gesso era dado de graça, mas muito produtor não ia buscar para não pagar o frete e montanhas do produto eram acumuladas. Ele teve, então, a ideia de vender aquilo que não queriam nem de graça.
Paolinelli procurou o químico Djalma de Sousa, pesquisador da Embrapa Cerrados, que já estudava os efeitos do gesso no desenvolvimento das plantas. Naquela época, as pesquisas já mostravam que, com o produto, a produção de milho crescia 50%, a de algodão e trigo dobravam.
Então o agrônomo teve a ideia de montar um sistema de entrega de gesso e ganhar dinheiro com isso. “Ele buscou a gente, nos ajudou no início das nossas pesquisas, nos financiou. Foi um trabalho muito bonito de divulgação da ideia, da técnica. Ele saiu na frente de todo mundo”, conta Djalma.
Paolinelli explica como o produto age. “O gesso aprofunda o sistema radicular (da planta). Se vem um veranico, a raiz está mais profunda, ela aguenta mais”. Segundo ele, quando começou sua empresa, a agricultura brasileira absorvia em torno de 70 mil toneladas de gesso. Hoje, o número gira em torno de 5,5 milhões de toneladas.