Soluções naturais podem responder por mais de um terço da redução das emissões de que o mundo precisa, aponta estudo
Ações como restauração de florestas e proteção de biomas podem contribuir para a mitigação das mudanças climáticas tanto quanto a eliminação da queima de petróleo
Medidas que reduzem emissões de gases do efeito estufa por meio da conservação ambiental – tais como restauração de florestas, recuperação de solos e proteção de mangues – podem ser tão impactantes para a mitigação das mudanças climáticas quanto a eliminação completa da queima de petróleo. É o que revela um estudo publicado nesta segunda-feira (16) por cientistas da maior organização ambiental do mundo, a The Nature Conservancy (TNC), e de outras 15 instituições[1].
A pesquisa aponta que a natureza pode oferecer, de forma economicamente viável[2], uma redução de emissões equivalente a 11,3 bilhões de toneladas por ano até 2030. Isso corresponde a mais de um terço (37%) da redução total que os países precisam obter para limitar o aquecimento global a 2°C.
Divulgado às vésperas da COP-23 (Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a ser realizada na Alemanha, a partir de 06 de novembro), o estudo reforça a importância de governos, empresas e comunidades incluírem as soluções naturais como parte fundamental do esforço para conter o aquecimento do planeta. Ações como a transição para uma matriz energética renovável e o incentivo aos carros elétricos continuam a ser fundamentais, mas as soluções naturais podem contribuir de maneira muito significativa.
Os cientistas descobriram, por exemplo, que se o Brasil conseguir evitar o desmatamento em seu território, obterá uma redução de emissões em volume quase igual ao produzido por uma potência industrial como a Alemanha. Projetos de reflorestamento podem remover o equivalente a um quarto das emissões dos Estados Unidos, ou quase o mesmo que produzem os setores de navegação e aviação, juntos, no mundo todo3.
“Um quarto das emissões de gases de efeito estufa no mundo, hoje, está associado ao uso que fazemos do território. A maneira como vamos administrar esse uso, no futuro, poderá fornecer 37% da solução para a mudança climática. Isso é um enorme potencial, ou seja, se estamos falando sério sobre conter as mudanças climáticas, teremos que pensar em investir na natureza, bem como em energia renovável e transporte limpo. Vamos ter que aumentar a produção de alimentos e madeira para atender a demanda de uma população em crescimento, mas sabemos que precisamos fazer isso de forma a considerar as mudanças climáticas”, afirma Mark Tercek, CEO da TNC.
Para Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, coordenador do Centro de Agronegócios da FGV/EESP e membro do Conselho Consultivo da TNC no Brasil, a pesquisa também traz desdobramentos importantes para o país. “Esse estudo confirma que o uso mais produtivo e sustentável das áreas agricultáveis, além de ampliar a oferta de alimentos para uma população mundial crescente, pode contribuir substancialmente para a redução dos gases do efeito estufa. Países emergentes e desenvolvidos que queiram despontar como líderes globais precisam agir com base nessa nova realidade”, afirma.
O estudo pode ser encontrado no site da Proceedings of the National Academy os Sciences.