Olaf Mielke: uma vida dedicada ao estudo das borboletas
A Universidade Federal do Paraná tem muitas áreas de excelência espalhadas por seus setores e campi. Entre elas estão laboratórios e grupos de pesquisa liderados por pesquisadores que alcançaram o topo da carreira no Brasil. São pesquisadores que, segundo os critérios estabelecidos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), se destacam entre seus pares, alcançando o nível 1A, o mais alto na modalidade de bolsas Produtividade em Pesquisa.
O portal da UFPR está publicando uma série de reportagens sobre os pesquisadores 1A da universidade e o trabalho científico que desenvolvem.
Aos 76 anos de idade, dos quais 51 na UFPR, é de se esperar dias tranquilos, em casa ao lado da família, com a sensação do dever cumprido. Nada disso faz parte do mundo do professor Olaf Hermann Hendrik Mielke, do Setor de Ciências Biológicas. Conhecido como ‘caçador de borboletas’, ele segue alimentando a coleção de 305 mil exemplares de lepidópteras (borboletas e mariposas) que mantém no Departamento de Zoologia da UFPR. Quando não está em campo, passa de seis a oito horas por dia no Laboratório de Estudos de Lepidóptera Neotropical, catalogando as coletas mais recentes.
Autor de oito livros, de 300 trabalhos publicados em revistas internacionais e 762 trabalhos técnicos, Olaf Mielke é incansável. Ainda em abril passou cinco dias no Peru, atendendo a um convite de estudantes, e aproveitou para coletar novos exemplares de lepidópteras. Em Inácio Martins, região Sul do Paraná, capturou recentemente pelo menos 300 borboletas. O pesquisador não abandona a rede de coleta nem mesmo nos fins de semana e nas férias. Quando a família vai à praia, ele prefere o mato, onde pode encontrar borboletas.
“Ao trabalhar com borboletas é possível esquecer de todos os problemas”, diz. Entre as preferidas da coleção está a “Thisânia agrippina”, que Mielke coletou no México e pertence uma espécie que pode ter indivíduos com até 30 centímetros.
Mielke participou de expedições em busca de borboletas em vários países. Já deu palestras ou desenvolveu pesquisas no México, Colômbia, Argentina, Estados Unidos, Venezuela, Inglaterra, Alemanha, França, Espanha, Polônia e Rússia. Muitas vezes ele recebe indivíduos enviados por amigos estrangeiros que, como ele, são apaixonados por borboletas – e para os quais também costuma mandar exemplares.
É membro do conselho diretor da Association of Tropical Lepidoptera – USA; sócio da Sociedade Entomológica do Brasil, da Lepidopterists Society, Union Des Entomologistes Belges, Association for Tropical Lepidoptera e da Sociedad Hispano Luso Americana de Lepidopterologia.
Trajetória
Nascido em Bonn, antiga capital da Alemanha, Olaf Mielke veio para o Brasil aos 11 anos, quando o pai, o taxidermista Karl Mielke, passou a trabalhar no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Foi do pai que herdou o amor pelas borboletas, quando Karl começou a fotografar a beleza e o colorido das lepidópteras. Das imagens para a primeira coleção foi um pulo. Ele lembra que ainda criança, aos 9 anos, na Alemanha, começou a guardar ovos de passarinho e mais tarde ganhou de presente uma coleção de libélulas (voadoras que costumam caçar na água). Mais tarde, no Brasil, colecionou gafanhotos e aos 12 anos tinha cerca de 300 deles.
Ainda adolescente começou a estagiar no Museu Nacional do Rio de Janeiro, auxiliando o pesquisador Ferreira de Almeida, que estudava as borboletas. As primeiras coletas foram realizadas em Nova Friburgo junto com a família do cientista. Aliando o trabalho com as fotos do pai, resolveu guardar borboletas em casa, mas como havia poucos alfinetes, cada exemplar que ia sendo capturado ocupava o lugar de um gafanhoto. Aos 18 anos, Olaf Mielke já possuía um acervo com cerca de 500 lepidópteras – coleção que ficou no Rio de Janeiro quando passou a trabalhar na UFPR.
Foi um outro reconhecido pesquisador da área, Padre Jesus Santiago Moure (falecido em julho de 2010), fundador do Departamento de Zoologia da UFPR, que descobriu o jovem Olaf Mielke no Museu Nacional e fez o convite para que viesse trabalhar como técnico no laboratório da UFPR, em 1966. “Padre Moure foi um grande chefe porque sabia reconhecer os talentos e valorizar a capacidade individual. Foi ele quem deu início ao museu de borboletas da UFPR, e muitas vezes ele tirava dinheiro do próprio bolso para dar sequência aos estudos”, diz Mielke.
Ao receber o convite de Padre Moure, Mielke já havia terminado o curso de graduação em História Natural na Universidade do Estado da Guanabara. Na UFPR ele fez mestrado e doutorado em Ciências Biológicas. Em 1972 fez concurso para professor assistente e dois anos depois para adjunto. Em 1994 passou a professor titular e até hoje ministra aulas de Entomologia na graduação em Engenharia Florestal, Ciências Biológicas e também na Pós-Graduação, como professor sênior.
Milke se aposentou compulsoriamente 2011, após completar 70 anos. Apesar das décadas dedicadas à pesquisa, ele acredita que são conhecidas apenas 10% das espécies de borboletas existentes no Brasil – estimadas em 3.500. O recado que deixa para as novas gerações é que os estudos nessa área devem ser cada vez mais estimulados: “Uma coleção de borboletas nunca será completa. O Brasil tem clima apropriado para o desenvolvimento das borboletas e precisamos conhecer nossa diversidade”. O professor conta que coleções de borboletas podem durar centenas de anos. Ele já estudou um exemplar coletado em 1.690 e que permanece perfeito.
Milke ainda tem um sonho: disponibilizar parte do acervo de borboletas para visitação pública. Hoje algumas espécies são mostradas apenas a estudantes de graduação, mestrado e doutorado da UFPR, quando precisam realizar suas pesquisas. Recentemente o laboratório recebeu investimentos de R$ 1,5 milhão da UFPR para a reorganização do mobiliário do acervo.
Por: Maria de Lurdes Welter – Superintendência de Comunicação Social – Portal UFPR
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