Leite, feijão e arroz lideram rebate da inflação em julho
Embora a inflação esteja perdendo fôlego no país desde janeiro, medida com base nos últimos 12 meses, voltou a ganhar força em julho. Pressionado pela alta dos alimentos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu de 0,35% em junho para 0,52% no mês passado, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No acumulado em 12 meses, o indicador oficial do custo de vida no Brasil ficou em 8,74%, pouco abaixo do percentual registrado até junho (8,84%).
Os culpados pelo novo rebate compõem um trio que faz parte do cotidiano do brasileiro nas refeições: feijão, arroz e o leite. São eles que continuam causando indigestão ao bolso do consumidor e a previsão é de que, somente com a chegada das chuvas, deixarão a má fama.
Em 12 meses, o feijão-carioca encareceu 166,38% no país. O leite ficou 46,47% mais caro e o arroz, 20, 99%, também na média nacional. A inflação acumula variação de 4,96% no Brasil em 2016. O IBGE informou, ainda, que no caso do leite a maior variação de preços medida mês a mês ocorreu na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde a o produto foi reajustado em 23,02% em julho, bem acima da média registrada no país, que foi de 17,58% (veja o quadro). O feijão-carioca teve alta de 22,18% e o arroz de 5,61% na Grande BH. No mês analisado, o IPCA alcançou 0,63%, perfazendo variações de 5,57% no ano e de 8,23% em 12 meses até julho.
A coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes, reconheceu que a culpa de a inflação voltar a ganhar força em julho é especialmente do feijão e do leite. “Na verdade, os alimentos aumentaram muito e vários, mas o feijão e o leite se destacaram”, diz. Ela enfatizou que a taxa de inflação poderia ser maior se a demanda não estivesse reduzida, levando-se em conta tanto a pressão dos alimentos, quanto o aumento dos custos e a volatilidade do dólar, que atinge vários setores e bens adquiridos em geral.
“Considerando que o país está vivendo retração no consumo e desemprego, os resultados do índice acelerando mostram que, apesar da redução da demanda, há custos que estão pressionando os resultados”, diz. Segundo a coordenadora da Assessoria Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, os três itens (arroz, feijão e leite) continuam pressionando a inflação por influência do clima, que trouxe queda na produção e, consequentemente, o aumento dos preços. “Vivemos um período mais seco e é normal essa redução na produção com repasse do custo”, comenta.
Porém, ela acredita que, com a melhoria do clima, a entrada do fenômeno La Ninã, a partir deste mês, pode ocorrer o aumento da produção desses alimentos. No caso de Minas, ela conta que os produtores já finalizaram o plantio de feijão-carioca, que deve chega ao mercado consumidor no fim de agosto. “Com isso, é possível que haja aumento na oferta e queda no preço”.
O mesmo pode ocorrer com o leite, com e entrada do período das chuvas. “A produção leiteira foi uma atividade bastante fragilizada. A seca comprometeu as pastagens do rebanho, o preço do milho ficou mais alto e o custo geral do produtor encareceu. Com as chuvas poder haver uma recuperação das pastagens, o rebanho pode ser melhor alimentado”, analisa. No caso do arroz, cuja referência de produção é o Sul do país, Aline aposta que em breve eles poderão se recuperar.
Um dado que chama a atenção na pesquisa de julho do IPCA é a alta do feijão-preto, com variação de 41,59% no país. De acordo com Aline Veloso, é uma inflação de demanda, uma vez que, diante do preço do tipo carioca, as pessoas passaram a consumidor o tipo preto, forçando assim supermercados a aumentar o valor do produto.
EM BAIXA No país, em julho, o leite foi a principal contribuição individual na inflação do mês, com aumento de 17,58%. Em segundo lugar, destacou-se o feijão, com alta de 32,42%. O arroz também mostrou aumento, de 4,68% na média. “Mas não só o arroz com feijão, a gente tem aumento nos ovos, no pão, farinha de trigo, no frango”, disse Eulina Nunes.
A tendência dos alimentos, agora, é puxar as taxas do IPCA para baixo. “É período de oferta maior, o que faz com que os preços se estabilizem ou até se reduzam. Em julho, especialmente, a elevação dos preços do grupo dos alimentos foi para 1,32% em função de problemas climáticos que afetaram as lavouras. É menor oferta de forma geral provocada pelo clima”, explicou. Em contrapartida, entre os produtos que ficaram mais baratos de um mês para o outro, destacam-se a cebola, com redução média de preços de 28,37% e a batata-inglesa, cujos preços caíram 20% no país. Na Grande BH, a batata teve queda de preços de 22, 91% e a cebola de 33,44%.