Invenção brasileira promete zerar desperdício de água na irrigação
Sensor patenteado no Brasil e nos Estados Unidos percebe mínimas alterações de umidade no solo, liberando água na quantidade exata e suficiente para o pleno desenvolvimento das plantas
Uma invenção desenvolvida em parceria da Embrapa com a empresa Tecnicer, patenteada no Brasil e nos Estados Unidos, promete reduzir em até 50% o consumo de energia e água nas lavouras.
O equipamento batizado de Saci (Sistema Automático de Controle de Irrigação) funciona com um sensor que percebe mínimas alterações de umidade do solo, acionando automaticamente o fornecimento de água conforme a necessidade das plantas.
A peça-base para o desenvolvimento do sistema é o sensor Igstat, um cilindro de sete centímetros de comprimento feito de material poroso que identifica a baixa umidade quando as paredes permeáveis detectam a passagem de ar. A invenção foi finalista da seleção Inovação para a Indústria 2017 do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo (Senai-SP) e está sendo desenvolvido com a participação da Universidade de São Paulo (USP) e da Embrapa Instrumentação.
A ideia é sofisticar o invento com incrementos tecnológicos e dotá-lo de uma interface amigável para que possa atender a diferentes produtores e culturas. Os pesquisadores explicam que a economia será gerada porque o Saci acionará a irrigação somente nas áreas da plantação que precisam de água, em vez de irrigar toda a lavoura simultaneamente, como ocorre nos sistemas convencionais. Essa característica o torna ideal para ser empregado em fazendas que utilizam a agricultura de precisão.
O pesquisador da Embrapa Instrumentação Carlos Vaz explica que o Saci será mais preciso, detectará uma faixa mais extensa de tensão crítica (limiar de umidade do solo a partir do qual há necessidade de irrigação) e apresentará leituras mais confiáveis por não sofrer influência de salinidade do solo nem de temperatura. Vaz integrou a equipe de desenvolvimento do Igstat e será o responsável técnico da Embrapa no projeto do Saci.
“O objetivo é que o produto atenda a pequenos e grandes produtores que desenvolvem cultivo protegido irrigado, empresas de sistemas de irrigação que atuam com métodos de aspersão e localizado, além de agricultores em geral que adotam irrigação na lavoura,” afirma o cientista da Embrapa.
Incentivo à inovação
O projeto Saci foi aprovado no edital de Inovação para a Indústria 2017 do Senai, cujo resultado foi divulgado mês passado. A proposta é uma das 31 contempladas no terceiro ciclo, na categoria B, destinada a estimular o desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços inovadores em micro e pequenas empresas, startups de base tecnológica e microempreendedores individuais. A finalista tem agora 24 meses para apresentar um protótipo do sistema.
O projeto envolve vários atores, de diferentes áreas do conhecimento, dos setores público e privado, para vencer em 24 meses os desafios tecnológicos de desenvolvimento do software e do hardware para automação da comunicação do sensor de irrigação com os demais componentes do sistema, como o reservatório de água.
Além do Senai, que está investindo recursos de R$ 400 mil no desenvolvimento do sistema, participam a Embrapa Instrumentação, a Faculdade de Zootecnica e Engenharia de Alimentos (FZEA) da Universidade de São Paulo (USP), em Pirassununga (SP), e a empresa de consultoria ambiental Genos.
A Embrapa Instrumentação vai avaliar a eficiência dos dispositivos sensores e do sistema de controle automático da irrigação em laboratório, comparando com outros sistemas disponíveis no mercado.
O Saci é composto de um sensor cerâmico de tensão de umidade do solo associado a componentes eletrônicos de automação sem fio, fonte de energia solar, rede elétrica ou bateria. A transmissão de dados poderá ser realizada por radiofrequência ou celular.
O aparelho terá resistência a umidade e choques, será de fácil manuseio e também reduzirá a lixiviação do solo e dos nutrientes e pesticidas, minimizando impactos ambientais e perdas econômicas. Além disso, vai facilitar a irrigação automatizada por não precisar de calibragens e permitir o armazenamento de dados sobre irrigação com facilidade.
Os experimentos serão realizados em ambiente protegido, em diferentes substratos e culturas, definidos dentro do grupo das hortaliças.
“Na agricultura irrigada, o manejo da irrigação ainda é muito pouco adotado pelos produtores rurais. Há uma rejeição, muitas vezes pela dificuldade na operação de sensores e principalmente pela necessidade de manutenção e pela falta de acesso à gestão da informação. Com o Saci acreditamos que essa barreira possa ser facilmente transposta”, afirma a professora Tamara Maria Gomes, que integra a equipe da USP que vai realizar os experimentos em campo com o sensor.
Brasil deve aumentar área irrigada
O Plano para a Expansão, Aprimoramento e Desenvolvimento Sustentável da Agricultura Irrigada no Brasil, anunciado em maio de 2016 pelo Ministério da Agricultura, prevê uma expansão da área irrigada do País de 6,2 milhões para 11,2 milhões, em dez anos, o que deve aumentar a produtividade de 3,4 toneladas para quatro toneladas por hectare e gerar até 7,5 milhões de empregos diretos e indiretos.