Cacau sustentável é esperança para ‘salvação da lavoura’ na Bahia

Produtores discutem manejo do fruto nos próximos 15 anos

A produção do cacau baiano vai mudar. E o que fazer do setor nos próximos 15 anos foi o que levou produtores do estado ao Fórum Bahia Cacau 2035, na tarde desta terça-feira (21), em Salvador. Enquanto o fruto se prepara para um novo ciclo, universidades e institutos de pesquisa, produtores rurais, empresários do chocolate e secretários de governo elaboram o novo Sistema e Arranjo Produtivo Local (APL). Até o momento, uma coisa é certa: para conseguir ‘salvar a lavoura’ ou tentar reviver a era de ouro da colheita, os produtores terão que aderir ao cacau sustentável.

A ideia é aproveitar o já existente sistema de produção comum na Bahia: o cacau cabruca. Nesse tipo de plantação, o cultivo é feito dentro da floresta. Assim, é possível preservar a Mata Atlântica, a fauna e as nascentes. Nesta terça, foi publicada no Diário Oficial do Estado (DOE) a Portaria nº 03 da Secretaria do Meio Ambiente (Sema) e do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), ambos do governo do estado, que regulamenta a concessão de áreas florestais para o manejo da cabruca na Bahia.

A “virada verde” da produção cacaueira também tem outro propósito: faz parte das exigências para que a amêndoa do cacau baiano seja considerada premium e consiga um preço melhor no mercado, principalmente o externo.

Atualmente, a amêndoa baiana não é considerada de alta qualidade e, por isso, é mais usada para produção do chocolate de massa, mais comumente encontrado em supermercados. Já a amêndoa premium possibilitaria uma marca forte, sabor próprio e identidade regional.

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Encontro em Salvador que discutiu produção cacaueira também teve exposição de chocolates (Foto: Marina Silva/CORREIO)

Resistente à seca
Para isso, o Instituto Biofábrica de Cacau desenvolveu uma variedade da planta que é mais resistente à seca, às pragas, além de ser capaz dar origem a uma amêndoa de alta qualidade e sabor diferenciados.

Aos poucos, os agricultores vão incorporando novas práticas, como o uso de adubo orgânico, estufa solar. “A gente começa a observar e vai vendo a necessidade da planta. Você vai cuidando e a matéria orgânica vai respondendo. Não precisa usar veneno. Na geração de resíduos, estamos já produzindo composteiras. Porque sustentabilidade é isso, preservar o meio ambiente e produzir produtos limpos”, conta a agricultora Damiana Martins, da zona rural de Mutuípe, no Centro-Sul.

Mercado 
O mercado e os próprios consumidores já demandam outro tipo de chocolate, mais gourmet, que tenha uma determinada concentração da amêndoa. “Será que nem o vinho, em que você olha o rótulo, a safra, o tipo da uva, a origem”, compara o secretário de Desenvolvimento Rural do Estado da Bahia, Jerônimo Rodrigues.

Para atingir o chamado nível premium, o cacau precisa obedecer a critérios sociais, ambientais e de produção. “Quando, lá fora, a gente chega e diz que o cacau da Bahia é um cacau que preserva o meio ambiente, que não tem trabalho infantil, isso agrega valor à amêndoa”, aponta Rodrigues.

Outra característica do fruto produzido na Bahia é que entre 80% e 90% dele advém da agricultura familiar. Populações indígenas, quilombolas e assentadas também produzem.

É o caso do produtor rural Edcarlos Pereira de Oliveira. Assentado em uma antiga fazenda em Pau Brasil, no Sul, ele conta que as 35 famílias que dividem o terreno com ele estão vendo na plantação de cacau uma fonte de subsistência.

“Estamos dando conta do cacau que estava morto, da fazenda que estava abandonada. Começamos a plantar novas mudas há seis meses. Nossa esperança é plantar mais e colher”, revela o produtor rural.

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