Professor da UFPR participa de debate mundial sobre água a convite da Unesco
O professor do departamento de Química da Universidade Federal do Paraná, Marco Tadeu Grassi, irá participar, a convite da Unesco, da Semana Mundial da Água, organizada pela Stockholm International Water Institute, em Estocolmo, na Suécia. O professor foi convidado para apresentar um diagnóstico sobre a situação da América Latina e do Caribe no painel “Poluentes emergentes na água: ameaças invisíveis à saúde e aos ecossistemas”.
Em dezembro do ano passado o professor participou, em Campinas, de um workshop do Programa Internacional de Hidrologia, também da Unesco. Representantes de mais de dez países, entre latinos e caribenhos, se reuniram para mapear o estado da arte da pesquisa e ações governamentais sobre contaminantes emergentes na região. Agora, ele representa o grupo e se reúne com especialistas de outras regiões, como África e países árabes, para encaminhar questões sobre manejo dos dos chamados poluentes emergentes e desenvolvimento de políticas públicas para o setor.
Segundo Grassi, os contaminantes emergentes têm sido bastante estudados no Brasil, “apesar da vertiginosa queda dos investimentos nos últimos quatro anos”. Segundo ele, em alguns países não há qualquer pesquisa relacionada à temática. Estes poluentes são considerados um novo desafio para o tratamento da água e do esgoto e se relacionam ao consumo e utilização de produtos farmacêuticos e de cuidado pessoal, agrotóxicos, produtos de limpeza, produtos químicos de uso industrial e microplásticos.
De acordo com o professor, que coordena o Grupo de Química Ambiental da UFPR e também é vice-coordenador do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA), o mercado de fármacos e produtos de higiene e cuidado pessoal no Brasil é o segundo maior do mundo. Já com relação ao uso de agrotóxicos, o país é líder mundial. “Mas em termos de saneamento, nos assemelhamos a países não desenvolvidos e temos inúmeras deficiências, o que representa um risco”, explica.
O risco ocorre porque os poluentes ou contaminantes emergentes não são considerados na legislação ambiental atual, embora o aumento no consumo e a presença na água possam representar ecotoxicidade e efeitos ainda desconhecidos no corpo humano. “Estes produtos não são legislados, não fazem parte do monitoramento da qualidade da água”, comenta Grassi. Entre os efeitos possíveis, há desde os ecológicos até os problemas à saúde humana, já que pesquisas identificam hormônios entre os novos resíduos presentes na água.
A proposta da Unesco é discutir o assunto em profundidade com especialistas que irão apresentar resultados dos workshops regionais. O site do evento indica “um diálogo participativo e aberto que envolverá tomadores de decisão, profissionais da água e outras partes interessadas para discutir respostas políticas sobre a gestão de poluentes emergentes com base nas evidências científicas disponíveis”.
Estas medidas serão discutidas também tendo como base os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, as 17 metas globais estabelecidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que preveem por exemplo água limpa e saneamento para todos. “Vamos falar sobre a importância do financiamento e desenvolvimento de pesquisas sobre o tema, pois há países que não têm nenhuma pesquisa, diferente do que ocorre no Brasil. Estas discussões devem contribuir para a geração e/ou aprimoramento de políticas públicas para o meio ambiente e saúde pública”, complementa.
Grassi tem participado e liderado pesquisas sobre o assunto em parceria com outros pesquisadores da UFPR e com outras instituições do Brasil. Ele será o único painelista a representar uma universidade no debate promovido pela Unesco. A Semana Mundial da Água ocorre de 25 a 30 de agosto e é considerada o principal movimento de transformação e desafios globais da água.