Pesquisadoras da UFPR buscam a conservação de tubarões e raias do litoral do Paraná
Você sabia que quando você come cação, na verdade está consumindo um tubarão ou uma raia? Isso porque eles são do mesmo grupo: os elasmobrânquios, peixes cartilaginosos que são objeto de estudo de um grupo de pesquisadoras da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O objetivo delas é buscar maneiras de conservar essas espécies no litoral paranaense, uma vez que os animais são ameaçados pela pesca desordenada e pela falta de políticas públicas de conservação.
“Estamos falando de animais que têm um papel ecológico na manutenção do ecossistema. A retirada deles afeta a economia e o ambiente, pois pode faltar o peixe para o pescador e para outras espécies marinhas”, explica a doutoranda em Zoologia Renata Daldin Leite.
A raia-viola-do-fucinho-curto (Zapteryxbrevirostris), o cação-rola-rola (Rhizoprionodon Spp.) e a raia-viola (Pseudobatos Spp.) são algumas das espécies já investigadas pelo grupo. Para ter acesso aos animais, as estudantes têm contato com pescadores nativos das praias de Matinhos. A rotina depende de cada trabalho e da quantidade de peixes a serem analisados, como aponta a mestranda em Zoologia Aline Prado. “Isso depende do mar, da temperatura e das espécies, pois cada uma tem um período de ocorrência diferente no nosso litoral”. Os pescadores as avisam quando aparece alguma espécie de interesse para que consigam analisá-las, se possível, ainda vivas. “Quando se trabalha com fisiologia, você precisa do animal vivo, e em cativeiro é difícil encontrar as mesmas características da natureza”, ressalta Renata.
As coletas ocorrem na praia, junto aos pescadores. “Tiramos amostras de sangue, brânquias, gel sensorial, medimos, tiramos fotos e devolvemos ao pescador, caso esteja morto. Se estiver vivo, devolvemos ao mar”, relata Isis Cury, formada em Ciências Biológicas pela UFPR.
Com o material em mãos, as pesquisadoras continuam o trabalho na Associação MarBrasil e no Laboratóriode Fisiologia Comparativa da Osmorregulação (LFCO), do Departamento de Fisiologia. Aspectos como estresse sofrido na captura, fisiologia reprodutiva e diferença de tamanho entre machos e fêmeas são analisados para verificar a interferência na dinâmica dos animais em ambiente marinho. “Sem o trabalho de biologia básica, nós não conseguimos ter informações importantes para os planos de manejo e de conservação das espécies. Muitas delas podem usar o litoral como área de berçário e estamos pescando sem saber essa informação”, enfatiza Aline.
A interação entre as pesquisadoras e os pescadores produz uma troca positiva para os dois lados, pois o conhecimento produzido pelo grupo pode contribuir para uma pesca mais sustentável. Um exemplo são as raias-violas, que possuem duas espécies no Paraná. Embora sejam parecidas, uma é pescada comercialmente e a outra, não. Com o estudo de marcadores de estresse (obtido pelas amostras), as alunas pretendem fazer um material de boas práticas de pesca, evitando que o animal proibido volte ao mar com algum dano. Isso já foi comprovado em outra espécie, a raia-viola-do-focinho-curto, que sofre abortos e diversas lesões quando capturada na pesca.
Ainda que alguns elasmobrânquios sejam endêmicos do Atlântico Sul, e sejam ameaçadas por conta da pesca, as estudantes relatam que não há muitos pesquisadores na área. “As pessoas não sabem que esses animais ocorrem aqui. Muitos também falam que não têm como pesquisar, por serem tubarões. Mas não é assim. Basta ir ao mercado de peixes, conversar com os pescadores que você consegue material de estudo”, enfatiza Aline.
Todo este trabalho mostra que, além de que não confundir espécies para o consumo, é essencial entender e preservar os tubarões e raias do litoral paranaense, devido à sua importância ecologia e manutenção da saúde do nosso litoral.
Por ASPEC/UFPR