Pesquisa da UFPR com achados inéditos sobre praga dos coqueirais é publicada na Scientific Reports
Uma pesquisa da UFPR com achados inéditos sobre a principal praga que atinge a cultura dos coqueirais é tema de um artigo publicado nesta segunda-feira (28) na versão on-line da Scientific Reports, prestigiada revista científica internacional do grupo Nature Research. O artigo – intitulado Isophorone derivatives as a new structural motif of aggregation pheromones in Curculionidae – é assinado por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Química, cuja excelência é reconhecida pela Capes com nota máxima.
O artigo é baseado na tese de doutorado defendida pelo pesquisador Diogo Montes Vidal. Além dele, assinam o texto Marcos Antonio Barbosa Moreira, Miryan Denise Araujo Coracini e o professor Paulo Henrique Gorgatti Zarbin, orientador do trabalho.
Realizada entre os anos de 2012 e 2016, a pesquisa conseguiu identificar e sintetizar em laboratório, pela primeira vez, a molécula que atua como feromônio de agregação do besouro Homalinotus depressus, considerado a praga mais frequente em coqueirais e causa de perdas financeiras na cultura, que no Brasil se concentra principalmente na região Norte.
Os feromônios são compostos químicos que, liberados no ar, servem como sinal de comunicação entre os animais, para fins de defesa, localização, atração sexual e agregação. No caso do coco, o besouro Homalinotus depressus (cuja infestação em coqueirais foi identificada pela primeira vez em 2008) aloja-se numa região conhecida como “axila” da fruta e suas larvas constroem galerias que interrompem o fluxo da seiva, causando a queda de flores e frutos.
Também são registrados ataques de insetos adultos em diferentes estágios do coqueiro. Por se alojar no interior da planta, essa praga não pode ser controlada com inseticidas convencionais.
Contribuição para outras pesquisas
Partindo da hipótese de que o uso dos feromônios para o controle da praga é promissor, os pesquisadores da UFPR trabalharam para identificar o feromônio do inseto macho responsável por atrair os besouros para as áreas de cultivo de coco.
Uma vez identificado o composto, ele foi sintetizado em laboratório e colocado em septos de borracha acoplados a armadilhas e instalados no alto de coqueiros. O produto natural sintético é liberado de forma controlada e tem seu efeito potencializado pelos compostos voláteis da própria planta.
O orientador da pesquisa, professor Paulo Zarbin, explica que vários grupos de pesquisa vêm trabalhando na identificação e síntese de feromônios de insetos da família Curculionidae (à qual pertence o Homalinotus depressus), mas até agora não havia estudos do gênero para nenhuma espécie do gênero Homalinotus.
“O nosso trabalho de identificação da estrutura química da molécula desse feromônio poderá contribuir para estudos relacionados a outros insetos da mesma família, que também causam prejuízos econômicos a diversas culturas”, afirma Zarbin.
Captura massiva
Segundo ele, a aplicação do resultado da pesquisa em campo está no primeiro estágio, no qual as armadilhas instaladas permitirão determinar a incidência da praga em cada área.
Esses dados permitirão, num segundo estágio, desenvolver um sistema de massa de captura de insetos, espalhando um número maior de armadilhas, conforme a necessidade de cada área.
“Além de resolver um problema do qual os inseticidas convencionais não dão conta, o composto sintético desenvolvido na UFPR tem a vantagem de não criar resistência nos insetos, uma vez que é natural. Ele não dizima a praga, como fazem os agrotóxicos. A ideia é reduzir a população de insetos a um nível abaixo do ponto crítico para ser considerada uma praga”, afirma Zarbin.
Cultura do coco
O Brasil é o quarto maior produtor mundial de coco, atrás de Indonésia, Filipinas e Índia. De acordo com dados apresentados na tese de Diogo Vidal, o País produz em torno de 2,8 milhões de toneladas por ano, o que corresponde a 4% da produção mundial.
Os coqueirais brasileiros se estendem por uma área de aproximadamente 300mil hectares, desde o Pará até o Rio de Janeiro.
É uma cultura com “importância econômica e social, pois deste fruto obtém-se diversos produtos, como água e leite de coco, madeira, fibras, combustível, ração animal, óleos e outros derivados para o processamento agroindustrial”, afirma Vidal no texto. “Além disso, o cultivo pode ser consorciado com outras espécies vegetais anuais como a mandioca (Manihot esculenta) ou perenes como o cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum), propiciando uma fonte de renda extra, principalmente, para o pequeno produtor.
De acordo com ele, “insetos-praga estão entre os principais fatores responsáveis pelos os baixos índices de rendimento dos coqueirais brasileiros por provocarem prejuízos severos às plantas”. Além do Brasil, há registro de ocorrência de Homalinotus nas Antilhas, Colômbia, Guiana Francesa, Guiana e Suriname.