Maior parque de geração de energia eólica da região Sul será inaugurado no Paraná em 2019
Complexo de Geração Eólica Palmas II terá potência de 200 MW, a partir da energia gerada pelos ventos abundantes de Palmas, na divisa com Santa Catarina
O município de Palmas, região Sudoeste do Paraná, deve ser contemplado com a segunda usina eólica instalada em seu território. Trata-se do Complexo de Geração Eólica Palmas II com potência total projetada de 200 MW (megawatts), o suficiente para abastecer um município de 240 mil habitantes. Essa potência é quase 80 vezes maior ao primeiro parque construído de forma pioneira pela Copel. O Palmas I, que entrou em operação em 1999, tem potência de 2,5 MW e era, até então, o único parque eólico do Sul do País.
Dessa forma, o Complexo de Geração Eólica Palmas II será a maior usina de energia eólica do Sul do Brasil, se estendendo sobre uma superfície de 16 mil hectares, que corresponde a mais da metade do município de Curitiba. De acordo com o projeto atual, o complexo será formado por sete parques individuais que terão 100 torres de 120 metros de altura cada.
O projeto se insere integralmente no município de Palmas, nas imediações do km 30 da PR-280, em áreas com incidência de ventos favoráveis, com velocidade média anual em torno de 7 m/s a 100 m de altura, o equivalente a 25 km/h.
De iniciativa privada, a investidora do empreendimento é a empresa Enerbios Consultoria em Energias Renováveis e Meio Ambiente, que tem sede em Curitiba. Os projetos de engenharia ficaram a cargo da sócia Enercons e os estudos energéticos são de autoria da Innovent, empresa alemã associada ao projeto. O investimento previsto para o empreendimento é de R$ 1,2 bilhão.
Segundo o engenheiro Ivo Pugnaloni, presidente da Enerbios e responsável técnico pelo projeto, os investimentos no parque eólico iniciaram há dez anos, com o arrendamento das terras e medição dos ventos. A mais recente atualização do empreendimento foi realizada no dia 01º deste mês quando a empresa venceu mais uma etapa do licenciamento ambiental prévio, em audiência pública convocada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), que contou com a presença de mais de 200 pessoas.
Agora, a próxima etapa do projeto é a emissão da licença prévia ambiental, com a conclusão de alguns documentos complementares, esperados para os próximos sessenta dias. Depois, para que a obra seja de fato iniciada, é preciso obter, junto ao IAP, a licença ambiental de instalação, que é emitida assim que o órgão constatar que todos os programas ambientais que a empresa se comprometeu estão sendo cumpridos, o que deve acontecer já no segundo semestre de 2018.
“Estamos muito confiantes de que não vai haver problema algum com relação ao licenciamento ambiental da nossa usina. Isso porque contratamos uma das melhores empresas de estudos ambientais do Brasil, a paranaense Cia Ambiental”, destaca Pugnaloni.
Desafio na comercialização
A construção da usina eólica em Palmas, no entanto, esbarra em um grande desafio: a venda da energia elétrica produzida pelo empreendimento, que pode ser comercializada tanto em sistemas de leilão, um sistema regulado, para as 62 distribuidoras de energia do Brasil, como para o ambiente não regulado, ou mercado livre. Neste caso, a energia é vendida para comercializadoras que revendem o produto para grandes consumidores, como indústrias, supermercados e shoppings.
“Gostaríamos que o governo se interessasse pela mercadoria que estamos oferecendo aos seus consumidores”, afirma o empresário. “Nós temos pela frente o desafio de convencer os governantes dos benefícios da energia renovável, sobretudo da eólica”, acrescenta.
Um aceno positivo da Copel já foi dado para o empreendimento, durante a audiência pública. Na ocasião, o diretor de Desenvolvimento de Negócios, Harry Françóia Junior, afirmou que, desde o ano passado, o projeto Palmas II já está em avaliação pela companhia estatal quanto à viabilidade de aquisição de sua energia gerada para uso no mercado livre.
Se vencido o desafio da comercialização da energia, as obras iniciam imediatamente após a liberação do IAP, que deve acontecer ainda em 2018. E devem ficar concluídas em até um ano. Dessa forma, o Complexo de Geração Eólica Palmas II deve começar a operar já em 2019.
A concessão do empreendimento é de 25 anos. Durante este período, devem ser gerados 7.500 empregos diretos e indiretos na região. A mão de obra contratada vai desde a montagem e construção do parque, a manutenção e o monitoramento ambiental. Além dos empregos diretos, prevê-se a geração de empregos indiretos associados a atividades de serviços no município como alimentação, hotelaria e turismo.
As medidas de compensação ambiental
A construção de empreendimentos potencialmente poluidores ou que possam causar degradação ambiental deve ser seguida de medidas mitigatórias e de controle ambiental que garantam o uso sustentável dos recursos naturais. Esta necessidade é regulamentada pela Portaria IAP 38-2010 que prevê a realização de Estudos Prévios de Impacto Ambiental (EPIA) e Relatórios sobre o Meio Ambiente (RIMA).
Neste sentido, apesar de os empreendimentos eólicos se destacarem pelos reduzidos impactos ambientais, se comparados a empreendimentos de porte similar de exploração de outras fontes de energia, ainda sim, são necessárias a realização de medidas mitigatórias.
No caso do Complexo de Geração Eólica Palmas II, as medidas consistem, em linhas gerais, no cuidado com nível de ruído e distância de moradias; proteção contra colisão com pássaros; e cuidados na abertura de novos acessos. As estradas rurais já existentes nas propriedades em que o empreendimento se insere irão receber diversas melhorias, como alargamento, implantação de cascalhamento, sinalização e drenagem.
Empresário critica opção do governo pelas termoelétricas
A energia eólica é a fonte de energia que mais tem crescido no Brasil. Em 2017, a geração dessa fonte de energia cresceu 25%, se comparado ao ano anterior, segundo dados divulgados pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Para se ter uma ideia, a geração de energia eólica já supera a geração de hidroeletricidade no Nordeste.
No entanto, embora a expansão do setor de energia eólica seja considerável, os valores ainda são muito baixos para se dizer que há um processo de diversificação energética em curso no Brasil. De toda energia produzida no país, apenas 7% é gerada pelas usinas eólicas.
Para o engenheiro Ivo Pugnaloni, presidente da Enerbios, empresa de consultoria em energias renováveis, este valor poderia ser bem maior, caso o governo federal investisse na diversificação das fontes de energia. “Ao longo dos anos, o governo federal colocou preços muito baixos na energia renovável e admitiu preços muito altos na energia fóssil, gerada pelas termoelétricas”, criticou. “Para se ter uma ideia, a emissão de gases de carbono e particulados quadruplicou no Brasil no período de 2001 a 2014.”
A boa notícia é a nova portaria estabelecida pelo governo federal, que passou a vigorar em março deste ano, que estabeleceu novos valores anuais para empreendimentos de geração distribuída, conectados diretamente à rede de distribuição da empresa compradora da energia. A partir de então, o valor da energia eólica ficou em R$ 296/MWh.
Mesmo assim, o engenheiro afirma que a impressão que se tem é que há uma preferência pela geração de energia termoelétrica porque ela gera mais impostos a curto prazo, a partir da taxa cobrada sobre o combustível que alimenta esta indústria. Pugnaloni ressalta, entretanto, que esta preferência tem feito o consumidor pagar caro na conta, já que a energia elétrica do Brasil figura entre as mais caras do mundo.
Além disso, o encarecimento da energia barra o desenvolvimento da indústria, que permanece ocupando apenas 7% do PIB do país desde 1950. De acordo com o empresário, a conta de energia no país aumentou 450% desde 2002, sendo que a inflação no mesmo período foi de 150%. “O aumento de três vezes do custo da energia encarece o produto gerado no Brasil, tornando-o invendável, e garante a perda de competitividade para as indústrias brasileiras de todos os setores.”
Ainda segundo Pugnaloni, o apoio do governo às energias renováveis poderia retomar o crescimento do Brasil, privilegiando uma energia mais barata, que não agride o meio ambiente e que gera mais empregos no país.
As principais etapas de geração eólica
1. A força do vento gira as pás da turbina que movimentam um rotor, o qual, através do eixo principal, move um gerador elétrico;
2. Dentro da turbina há um multiplicador de velocidade que permite que o gerador produza eletricidade;
3. A eletricidade é enviada por cabos que descem pelo interior da torre e se conectam a redes de energia que a transportam até uma subestação;
4. A partir disso, a energia produzida adentra no sistema de distribuição e chega até nossas casas através da rede elétrica.
As vantagens da energia eólica
– Opção viável e competitiva, contribui de forma importante como fonte complementar à matriz elétrica brasileira baseada na hidroeletricidade;
– Permite que outras atividades econômicas sejam exploradas junto aos parques eólicos, como a agropecuária e o turismo rural;
– Reduz a emissão de gases de efeito estufa, ao substituir combustíveis fósseis na operação do sistema;
– Geradora de empregos e renda para população local;
– A operação e manutenção dos parques eólicos possibilitam a formação de mão de obra qualificada na região.