Cientistas da UFPR contribuem com a organização da biodiversidade das moscas e mosquitos
Um trabalho minucioso, que envolve desde cortes precisos para analisar cada parte do animal, até uma obstinação para identificá-lo a partir do lugar onde ele estava e de suas relações com o ambiente. Os processos que ocorrem todos os dias no Laboratório de Biodiversidade e Biogeografia de Diptera, coordenado pelo professor Claudio José Barros de Carvalho, do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), levaram à identificação de diferentes insetos no mundo e, por isso, são considerados referência no Brasil.
As pesquisas compartilham o apreço científico por insetos que, na opinião popular, são tratados como pragas, mas que na Biologia representam a chance de aperfeiçoar um tipo de conhecimento quase invisível: aquele que é produzido pela ciência básica. É a partir da identificação e do detalhamento dos espécimes que eles passam a existir e, com isso, a ter validade científica para outras pesquisas.
A beleza dos insetos, mais precisamente dos dípteros, é consensual entre os pesquisadores que dedicam a vida a estudá-los. Suas cores e formas, analisadas em microscópios, revelam características que passam despercebidas por quem os considera como pragas. “O Homem veio depois do inseto, então o conceito de praga é relativo”, brinca Carvalho.
Diante de exemplares que formam a segunda maior coleção do Brasil, os pesquisadores fazem um tipo de trabalho que desperta curiosidade, mas que exige tempo, investimento e rigor. “Essa espécie estava na natureza e não existia. Com o trabalho que fazemos, ela passa a existir. A partir disso nós vamos descrevê-la e relacioná-las com outras”, explica.
O trabalho em nível de detalhe é essencial para contribuir com a organização da biodiversidade. Segundo Carvalho, o Brasil é um país com alta diversidade. Possui cerca de 15% de todas as espécies conhecidas no mundo: muitas delas passaram a ter nome e identificação ali, junto às pesquisas do laboratório da UFPR, em uma produção de conhecimento que se espalha e dissemina pelo mundo. “No exterior, ex-estudantes atuam como professores ou pesquisadores na República Dominicana, Estados Unidos e Canadá”, comenta.
Uma das pesquisadoras formadas por essa rede, a cientista Jessica Gillung, fez iniciação científica no laboratório e hoje está fazendo pós-doutorado nos Estados Unidos. Ela irá a Londres receber o Prêmio Marsh, da Royal Entomological Society, no dia 21 de agosto.