Agrofloresta é “remédio” para mudanças climáticas
Além de proteger a produção do calor, a agrofloresta possibilita o controle das pragas e traz facilidades de manejo
Em tempo de mudanças climáticas e da alta valorização das produções sem o uso de agrotóxicos, o manejo agroflorestal tem sido visto como uma boa alternativa na zona rural. Já são mais de cinco experiências em prática, hoje, em Montenegro, de acordo com a Emater. Elas consistem em culturas que são plantadas em meio à mata nativa, trazendo diversas vantagens. Uma delas é a da família Kranz, na localidade de Alfama.
Produtor de citros, o casal João e Márcia Kranz tem 11 dos 22 hectares de suas terras plantados com bergamotas, limões e laranjas. Tudo isso fica no meio de árvores como canjerana, canela e louro. Em uma relação de parceria com a natureza, a produção recebe sombra e refresco dessa mata, usufrui da matéria orgânica das folhas e frutos que caem dela, no chão, e também da água, que é introduzida no solo pelas raízes, impedindo erosões.
As árvores também garantem proteção contra chuvas de granizo; facilidade aos agricultores no manejo, pois estes podem trabalhar na sombra; o não aparecimento de pragas, como o cancro e a pinta preta; e a menor perda de frutas, sem a incidência direta do calor e dos raios solares – cada vez mais fortes nos últimos anos. “A produção toda se beneficia de uma série de vantagens”, resume João.
O agricultor garante que qualquer cultura pode se desenvolver no manejo agroflorestal, sendo apenas necessário – conforme o produto – o controle da sombra, mantendo as árvores mais próximas ou mais afastadas da produção. Por causa desta necessidade, o licenciamento ambiental emitido pela Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema) autoriza a poda da mata nativa, visto que essa ação faz parte do processo da propriedade.
O agricultor explica que a ideia de que algumas árvores possam vir a prejudicar a produção por tirar água dos itens plantados é um mito. “A nativa não compromete. Ela foca no fundo do solo para buscar seu alimento e não compete com os citros, que têm suas raízes na parte superficial”, explica. O mesmo vale para as demais frutas e verduras. “É só mesmo o controle da sombra.”
João Kranz aponta que o único ponto que poderia ser considerado uma desvantagem no manejo é a falta de espaço para a passagem de máquinas em um arvoredo repleto de árvores nativas. “Às vezes, não tem como entrar um trator, então tem mais trabalho braçal, o que o pessoal não quer muito”, coloca. Ele ressalta, no entanto, que, com a sombra, há menor aparição de brejo ou de ervas daninhas – o que é uma compensação.
Iniciativa ganha destaque e reconhecimento
Desde 2004, a propriedade é uma agrofloresta. Além da recuperação do que era mata nativa – do local – o casal introduziu outras árvores, como a araucária, em um ciclo que levou mais de cinco anos. Eles também plantam, em menor quantidade, batata-doce, figo, abacate e banana.
Os Kranz têm obtido reconhecimento – também pela aplicação do conceito da biodinâmica que colocaram em prática – e já foram visitados por diversos produtores que buscavam replicar o manejo em suas terras. Inclusive gente de fora do país.
João salienta que há uma grande preocupação em dar fim às doenças das frutas e também de parar com a aplicação de agrotóxicos, o que explica o interesse. Ele revela que está projetando um programa de estágio na propriedade – tendo inclusive conhecido a metodologia de uma fazenda-escola alemã – onde os estudantes poderão passar um ano acompanhando todo o ciclo da produção. Tudo para disseminar uma alternativa viável, efetiva e que não agride o meio ambiente.