Planejamento do material de plantio

Um dos principais fatores envolvidos no planejamento e na escolha dos materiais genéticos para plantios florestais é a utilização que se quer dar à plantação, ou seja, que tipo de indústria vai consumir a madeira produzida. Há espécies e clones, cujas características da madeira são mais aptas a certos tipos de produtos. Pode haver antagonismo quanto às propriedades valorizadas para usos distintos, como madeira para celulose e carvão vegetal. Para a fabricação de celulose, há uma faixa específica de densidade, normalmente mais baixa do que seria ideal para a fabricação de carvão e para a produção de energia de biomassa.

Da mesma forma, altos teores de lignina são valorizados na produção de energia de biomassa e na fabricação de carvão vegetal, mas podem ser indesejáveis na fabricação de celulose. Na produção de madeira serrada, dependendo do tipo de segmento de mercado que vai ser atendido (móveis, pisos, móveis para exteriores, etc.), pode não haver antagonismo com a produção de celulose, carvão e madeira para energia, ou seja, a madeira adequada a essas utilizações pode, ao mesmo tempo, ser adequada para serraria.

Dessa forma, se nota que a adequação da matéria-prima florestal aos distintos usos deve ser olhada com cuidado para não se desvalorizar sua qualidade perante os mercados consumidores. A utilização da madeira, com qualidade, deve ter em consideração suas características exigidas para cada uso final. O ambiente de plantio é outro fator importante no planejamento e na escolha dos materiais genéticos para os plantios florestais. É no ambiente de plantio que se vão evidenciar os fatores que podem impulsionar a produtividade e os que podem funcionar como fatores redutores.
Há que se levar em conta as características regionais no tocante ao clima, aos fatores bióticos e abióticos predominantes e o que o manejo pode contribuir para atenuar certas situações de campo. Nesse sentido, é importante saber quais fatores podem comprometer o desempenho dos distintos materiais genéticos, para que a escolha seja a mais adequada possível. O ideal é estabelecer testes clonais para guiar essa escolha, mas nem sempre isso é possível para os pequenos e médios produtores. Nesses casos, é importante conhecer o comportamento dos distintos materiais genéticos disponíveis.
O mais simples é verificar quais materiais genéticos se adaptam a esses ambientes, sobretudo para os produtores que não desenvolvem programas de melhoramento. Nesse caso, funciona bem copiar o que está dando certo. Para novos materiais, sem tradição no ambiente foco, comparações climáticas entre locais onde esses materiais já são plantados com sucesso e os ambientes das novas fronteiras florestais podem ser úteis na indicação dos materiais genéticos mais adequados aos novos locais de plantio.
É importante salientar que a utilização de clones tem que ser muito bem planejada para não ocorrer problemas decorrentes da especificidade ambiental de alguns materiais genéticos. Em locais de expansão florestal, os governos estaduais deveriam estabelecer redes de testes clonais para orientar pequenos e médios produtores na escolha adequada do que plantar. Há grande quantidade de clones de alto potencial de crescimento em algumas empresas, os quais não atendem a especificações de qualidade da madeira, mas que podem ser úteis para pequenos e médios produtores e até mesmo para empresas com outros tipos de uso.

As empresas que produzem carvão vegetal, por exemplo, descartam clones com densidade intermediária, que podem atender ao segmento de celulose e madeira para serraria. Há clones descartados nas empresas de celulose com densidade acima dos seus limites ótimos, que podem ser adequados para quem busca maior densidade da madeira, como carvão vegetal e energia de biomassa. Normalmente, esses clones podem ser disponibilizados mediante venda ou pagamento de royalty.

Dessa forma, a quantidade de clones com potencial de adaptação pode aumentar consideravelmente com o acesso a esses clones. Os novos projetos florestais estão sendo direcionados para áreas ambientalmente mais críticas, com maior déficit hídrico. Em razão disso e do recrudescimento das situações de estresse hídrico ocorridas nos últimos anos, a Sociedade de Investigações Florestais, em parceria com o Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais e várias empresas associadas às duas instituições, iniciou o desenvolvimento de um programa cooperativo para a produção de clones tolerantes ao déficit hídrico.

Esse programa vai aproveitar a complementaridade existente entre as empresas, no sentido de que sejam desenvolvidos novos materiais tolerantes à seca. A maioria dos clones tolerantes à seca existentes no Brasil é proveniente de cruzamentos envolvendo espécies tolerantes, com E. camaldulensis, E. tereticornise E. brassiana. Portanto, além dos clones com alguma tolerância à seca, essas espécies serão de grande importância dentro desse projeto.

É importante considerar que, nesse cenário de mudanças climáticas, situações mais limitantes podem ocorrer e que o desenvolvimento de materiais tolerantes é estratégico ao aumento, ou até mesmo à manutenção da produtividade. Há uma série de novos desafios, que podem dificultar na escolha dos materiais de plantio, como os insetos introduzidos nos últimos anos no País. Entre eles, se destacam o psilídeo de concha (Glycaspis brimblecombei), a vespa da galha (Leptocybe invasa) e o percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus).
A rápida adaptação desses insetos a materiais genéticos, inicialmente não preferenciais, indica que eles podem representar riscos mais sérios à produtividade das florestas de eucalipto no Brasil. Há também doenças recentes, como as causadas pelo fungo Ceratocystis e bactérias dos gêneros Ralstonia e Erwiniaque, juntamente com doenças antigas, como ferrugem, cancro e Cylindrocladium, também dificultam as recomendações de materiais de plantios em certos locais.

Apesar de os clones serem biologicamente mais vulneráveis, devido à não existência de variabilidade genética entre as plantas do mesmo clone, por essa mesma razão clones testados e comprovados, em relação à sua resistência e adaptação, são mais confiáveis. Outros fenômenos, como o “distúrbio fisiológico”, um problema identificado como sendo causado por fatores abióticos, também têm afetado a produtividade dos plantios em áreas de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. Há clones e espécies com potencial de tolerância ao “distúrbio fisiológico”.

Certamente, o plantio de clones tolerantes é a melhor alternativa para suplantar esse problema. Nesse sentido, clones híbridos entre espécies de Corymbiaestão se constituindo mais uma opção para áreas com “distúrbio fisiológico”, sobretudo quando esses cruzamentos têm a espécie C. torelliana na sua constituição. Essa espécie ocorre em áreas com altos índices pluviométricos, seguidos de períodos secos, e se adapta muito bem às situações predisponentes do “distúrbio fisiológico”, que são a combinação de alternâncias de muita chuva e períodos secos, em solos pesados e de difícil drenagem.

Outra situação, que representa dificuldades na escolha dos materiais de plantio, decorre de áreas muito extensas plantadas com alguns clones em determinada região. Há situações onde um clone já possui mais de 70 mil hectares plantados em uma mesma região. Embora uma grande área plantada possa ser indicativa do bom crescimento, qualidade da madeira e adaptação, a base genética reduzida é um risco que pode, a qualquer momento, acionar o gatilho de algum problema biótico.

Dessa forma, é preferível evitar o plantio de clones que ocupam grandes extensões de áreas, desde que haja alternativas adequadas em termos de qualidade da madeira e adaptação. Ao se planejar o material de plantio, há a possibilidade de a escolha recair sobre plantios clonais, ou plantios seminais. Do ponto de vista dos processos industriais, nos seus distintos segmentos, a clonagem apresenta contribuições potencialmente importantes. A clonagem possibilita a produção de matéria-prima mais uniforme, o que, do ponto de vista industrial, apresenta significativos benefícios, tanto na redução dos custos do processo industrial quanto na qualidade dos produtos.

Embora possa ser uma fragilidade do ponto de vista biológico, os clones podem ser o caminho mais adequado para solucionar problemas de incidência de doenças. Historicamente, o uso de clones resistentes tem sido uma medida eficiente para possibilitar o plantio de florestas produtivas em locais com incidência de doenças. Entretanto isso não pode ser assumido como regra, pois algumas espécies são recalcitrantes aos processos de clonagem, e, se a escolha recair sobre essas espécies, utilizar sementes é obrigatório. Além disso, para áreas com ocorrência de geadas, às vezes, sementes ainda são a opção mais adequada para pequenos e médios produtores, com é o exemplo de E. benthamii. Fica como mensagem final que a escolha certa pode determinar o sucesso das plantações, assim como escolher os materiais errados pode representar um desastre.

Teotônio Francisco de Assis

Diretor da Assistech

Fonte: Revista Opiniões
Parceira PECCA/UFPR
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