Chico Bento cresceu e virou agrônomo

Confira a entrevista com o cartunista Mauricio de Sousa que fala da importância da personagem, que se modernizou, mas mantém sua essência

Mauricio de Sousa - Chico Bento (Foto: Redação Globo Rural)

Chico Bento tem quase 60 anos, o mesmo tempo de carreira de seu criador, Mauricio de Sousa, mas a personagem se mantém jovem. Com seu sotaque característico, ele continua falando sobre a alma do homem do campo a um público que se renova. E ele também se renovou. Hoje, um Chico Bento moço estuda agronomia para resolver os problemas da sua região. Criado como coadjuvante para as tiras publicadas na revista de uma cooperativa agrícola, Francisco Antônio Bento  (nome do tio-avô que o cartunista nunca conheceu) foi inspirado pelas lembranças de infância de Mauricio. Nesta entrevista, o cartunista, que em 2017 completa 82 anos com a publicação de uma autobiografia, explica a origem e as motivações do jovem caipira e fala da importância da personagem, que se modernizou,  mas mantém sua essência.

GR  Chico Bento tem uma semelhança muito grande com você quando garoto no interior de São Paulo. Quanto o personagem é o próprio Mauricio?
Mauricio de Sousa 
 Já fui bem Chico Bento nos antigos tempos. Tanto que, quando Mogi (das Cruzes) era uma cidade pequena e eu morava lá, não sabia o que era sapato. Sabia porque via. Mas usar, só depois que entrei na escola, para ir à aula. Eu gostava de pisar no barro, na grama, subir em árvore para pegar fruta no pé. Principalmente goiaba. E cabulava aula para nadar no rio, e fazia isso pelado, para não molhar o uniforme. Também pescava traíra, caçava rã no ribeirão e alguns bichinhos nos barrancos. Apareciam aranhas, escorpiões e, de vez em quando, uma cobrinha ou outra. Tive uma infância muito gostosa e livre. Com brincadeiras saudáveis, algumas meio perigosas e outras que eu não confessava para a minha mãe. Mas lógico que com isso aprendi tudo para escrever as histórias do Chico.

GR  Ele estreou em 1963 como coadjuvante das tirinhas de Hiroshi e Zezinho, publicadas na revista da cooperativa Coopercotia. Já em 1982 protagonizou  sua própria HQ. Como essa ascensão ocorreu?
Mauricio de Sousa
  Sua personalidade, ações, hábitos e temas cavaram isso. Não fiz o Chico como um popstar de cara. Ele foi indo. E algumas personagens se transformam ou ganham força de alguma maneira. Com a Mônica foi assim: ela era uma personagem secundária da história do Cebolinha. Apareceu, roubou a cena e ficou dona do pedaço e da rua. E o Chico tem futuro.

GR  Mas olhando para os 54 anos de sua história, como você o define?
Mauricio de Sousa
  É uma personagem típica e especial, porque demonstra a realidade de um menino do campo. Então, alguém que queira estudar como é essa vida, como se fala e quais tipos de mensagem ela pode passar vai ao Chico buscar algo que mexe com a realidade da criança roceira. E ele é o único personagem que faz frente a Mônica em tiragem de revista. Minha explicação é que todo mundo sonha em viver em um lugar igual ao do Chico Bento, com águas cristalinas, mato, frutas no pé, etc. E mesmo as pessoas das grandes cidades têm nostalgia da Vila Abobrinha, mesmo não tendo vivido nela. Elas sentem como uma coisa desejada. Algo simples, gostoso e agradável. É uma nostalgia de vida não vivida.

GR  Mas as histórias do Chico ainda espelham a realidade sociocultural do país?
Mauricio de Sousa
  Muita gente fala para mim: “Mauricio, você está fazendo uma história do Chico Bento que não existe mais”. Existe sim. Tenho viajado aos grotões do Brasil e lá está cheio de Chico Bento, histórias e lugares como a sua roça. Cada vez mais influenciados pelos hábitos citadinos ou pela tecnologia. E tudo bem, pois tudo se transforma. Porém, o caipira até pode usar um aparelho moderno, sofisticado, mas o “caipira, caipira” mantém os hábitos na fala, nas crenças. Continua do mesmo jeito, e ainda bem.

GR  Então o lar do Chico, a Vila Abobrinha, não é uma utopia?
Mauricio de Sousa
  Existem várias Vilas Abobrinhas por aí. É que não fazem propaganda. Aqui ou ali há uma contaminação política que prejudica um pouco. Alguns vícios dos cidadãos mais aquinhoados que ameaçam turbar o paraíso perdido. Mas a gente vai mostrando aos leitores.

 

Confira a entrevista completa aqui.

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